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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Jasão - Herói

Jasão era filho de Éson. Passou a infância na Tessália, numa gruta do monte Pélion, e foi educado pelo centauro Quíron. Assim, cresceu longe das cidades e revelou grandes aptidões: sabia manejar o arado e arremessar dardos, e vencia qualquer um na corrida. Tornou-se forte em contato com a natureza, percorrendo todos os dias os bosques e os vales. Quando ele ficou adulto, seu pai achou melhor lhe revelar sua verdadeira condição: "Querido filho, seu lugar não é aqui. Um destino prestigioso o aguarda no trono da cidade de Iolco. Eu era o legítimo soberano dela até meu meio-irmão Pélias me destronar. Já é tempo de você ir à corte e reclamar o que lhe pertence." Surpreso com a notícia, Jasão fez o que disse o pai. Cobrindo os ombros com uma pele de animal, abraçou seus velhos pais e tomou o caminho da cidade. Ao chegar ao vale, foi detido por um rio de águas profundas. Estava examinando os arredores à procura de uma passagem, quando viu, perto dele, uma velhinha que não ouvira se aproximar. "Poderoso senhor", disse ela com voz trêmula, "pode me ajudar a atravessar o rio? Minhas forças não permitem que eu enfrente a violência da correnteza." "Não é que me recuse a ajudá-la", respondeu o rapaz, surpreso com a aparição. "É que só tenho minhas costas a lhe oferecer, e nenhuma certeza de que chegarei são e salvo à outra margem." Sem levar em conta a hesitação dele, a velhinha subiu nas costas de Jasão. A água gelada atingiu rapidamente a altura do queixo do jovem, que engoliu água várias vezes, pois tinha sobre si o peso da passageira, cujas roupas encharcadas o empurravam para o fundo. Graças a um grande esforço, ele conseguiu lutar contra a correnteza. Finalmente, alcançou a oposta e desabou na terra úmida. Quando recobrou o fôlego, procurou sua companheira  de travessia. Em vez da velhinha, deu com uma silhueta esguia, trajando um elegante vestido púrpura.  
A cor do tecido contrastava com o brilho de uma pele branca, realçada por uma abundante cabeleira castanha e olhos cor de esmeralda. O rapaz ficou mudo diante daquele prodígio. Antecipando-se às perguntas, a mulher tomou a palavra: "Sua generosidade iguala sua nobreza. Você não temeu perder a vida para ajudar uma pobre velhinha. Esse teste me permitiu conhecê-lo melhor. Saiba que, a partir de agora, será protegido por Hera, esposa de Zeus, em recompensa à sua coragem. Vá, siga seu caminho, que duras provas o esperam."

Mal a deusa terminou essa frase, sua imagem se turvou, e ela desapareceu. Julgando-se vítima de uma miragem, o rapaz tentou encontrar ao redor algum indício da presença divina. Já não dava para ouvir nenhum barulho, nem mesmo o do movimento das águas. Aliás, a violência destas cessara de repente, e a água, agora clara, corria calma entre grandes pedras. Jasão notou que havia perdido uma sandália na travessia. Mas foi em frente, sem sentir as pedras do caminho. Assim, descalço, atravessou as portas da cidade ante o olhar inquieto dos habitantes. O homem a quem perguntou onde ficava o palácio apontou a direção com um gesto furtivo, depois saiu correndo. 

O trono de Iolco passou de seu avô Creteu para seu tio Pélias, que era filho de Tiro e Posidão. Pélias prometeu concedê-lo, com uma condição: que trouxesse o mítico tosão (lã) de ouro guardado por Eetes, rei da Cólquida, e protegido por um dragão. Embora a missão fosse considerada impossível, Jasão aceitou-a. Construiu então um navio, o Argos, com mastro feito de um dos carvalhos de Dodona, lugar vizinho ao templo de Júpiter, cujas árvores era oráculos, e embarcou com um grupo de heróis, os "argonautas". Entre eles encontravam-se Hércules, Cástor e Pólux, Orfeu e muitos outros. Depois de numerosas peripécias, Jasão chegou à Cólquida e, com a ajuda da maga Medéia, filha do rei, conseguiu apoderar-se do tosão. Jasão casou-se então, com Medéia e, depois de uma longa viagem, ambos aportaram em Iolco. Medéia conseguiu com suas artes a morte de Pélias e fugiu com o marido para Corinto, onde viveram dez anos e tiveram filhos. A história termina tragicamente: Jasão abandona a esposa por Creusa, filha do rei de Corinto, e Medéia vinga-se matando a noiva. Em seu furor mata também seus dois filhos tidos com Jasão. O final deste é incerto. Segundo algumas versões, enlouquecido de dor, suicidou-se; segundo outras, morreu por castigo divino, por ter quebrado o juramento de fidelidade a Medéia. Apolônio de Rodes, em sua crônica sobre os argonautas, e Eurípides, na tragédia Medéia, foram alguns dos grandes escritores gregos que trataram da lenda de Jasão.


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